17/05/2021 - Ciências
Ciência como ferramenta de legitimação do preconceito
Carl Von Linné https://escola.britannica.com.br/artigo/Carlos-Lineu/632188)(1707-1778) é o nome de um naturalista amplamente estudado e conhecido pelos professores de Ciências. Lineu, como é chamado na língua portuguesa, tem grande importância para o estudo das Ciências Naturais, especialmente pelo desenvolvimento do seu consagrado sistema taxonômico, utilizado até hoje para classificar os seres vivos.
O que talvez poucos educadores saibam é que em sua obra mais importante, Systema Naturae (1735), ao incluir o ser humano no reino animal o naturalista classifica os homens em quatro (4) variedades distintas, que levavam em conta não apenas a cor da pele, mas também os atributos morais, tais como:
Europeus albus – branco, inventivo, engenhoso, governado por leis.
Americanus rubesceus – moreno, amante da liberdade, irascível, governado pelos costumes.
Asiaticus luridus – amarelado, orgulhoso, avaro, governado pela opinião.
After niger – negro, preguiçoso, astuto, negligente, governado pela vontade arbitrária dos seus senhores. (Poliakov, 1974, p.137).
Atualmente olhar para estas definições soa como ofensivo e discriminatório, além de cientificamente incorreto, mas então como e por que este médico/botânico sueco ainda é tão importante para o estudo da Biologia?
Em nossas formações você já deve ter ouvido que a Ciência é uma atividade humana com determinações sociais e econômicas, sujeita a erros e acertos. Esta classificação foi publicada em 1735 e estudada por pesquisadores em diversas partes do mundo, e retrata exatamente o pensamento de uma elite social e intelectual branca da época, interessada em manter a sua
hegemonia e privilégios, buscando na Ciência meios de legitimar diferenças entre os seres humanos. Aqui no Brasil, este pensamento de utilização da pesquisa científica como discurso legitimador da superioridade branca sobre os outros seres humanos, encontrou terreno fértil em diversos estudos realizados por cientistas do Museu Nacional, em suas conferências e cursos públicos que ocorreram no Rio de janeiro entre 1870 e 1889. Nomes como Ladislau Netto, Louis Couty e João Baptista de Lacerda utilizaram a classificação de Lineu, estudos da evolução, da Antropologia, além da observação e estudos realizados com crânios e esqueletos que faziam parte do acervo do museu Nacional, para difundir as diferenças existentes entre as diversas “raças” humanas, buscando defender uma superioridade branca sobre outros humanos, como os negros, asiáticos e indígenas, como pode ser conferido no livro, Darwinismo, raça e gênero de Karoline Carula, historiadora, que descreve com detalhes o papel importante das conferências do museu Nacional como instrumento de influência social sobre a elite brasileira.
Sabemos hoje, graças ao avanço da genética e outras Ciências, que independente da cor da nossa pele todos somos parte de uma única espécie, somos os únicos hominídeos sobreviventes, os Homo sapiens. Todos os representantes desta espécie apresentam o mesmo desenvolvimento biológico, as mesmas capacidades e possibilidades evolutivas, o que impossibilita qualquer tentativa de se legitimar o preconceito racial ou de gênero entre a espécie humana por meio da Ciência. Nem sempre foi assim, muito se tentou e se especulou para provar que determinados grupos eram superiores há outros, merece
ndo, portanto, privilégios ou domínio sobre grupos diferentes e diversos. Se biologicamente esta é uma questão resolvida, ainda temos muito que desenvolver em termos sociais, educativos e de políticas públicas.
Esta reflexão aqui apresentada é uma iniciativa para convidar a todos(as) para participar, a partir do dia 8 de junho, de uma série de lives “Reflexões sobre práticas pedagógicas: caminhos para uma educação antirracista.” O evento será realizado no Canal do Youtube do Sistema de Ensino Aprende Brasil, organizado pela Assessoria de Área.
Vamos aprender um pouco sobre este tema e ajudar a melhorar cada vez mais a nossa sociedade? Espero vocês lá!
Até mais!
Assessoria de Ciências da Natureza
Para saber mais, leia também:
Preconceito, discriminação e racismo (http://educadores.aprendebrasilon.com.br/blogassessoria/2021/05/17/preconceito-discriminacao-e-racismo/)
Racismo: ainda precisamos falar sobre isso? (http://educadores.aprendebrasilon.com.br/blogassessoria/2021/05/05/racismo-ainda-precisamos-falar-sobre-isso/)
Os negros são racistas? (http://educadores.aprendebrasilon.com.br/blogassessoria/2021/05/10/os-negros-sao-racistas/)
Habilidades mobilizadas (BNCC): http://basenacionalcomum.mec.gov.br/:
(EF01CI04) Comparar características físicas entre os colegas, reconhecendo a diversidade e a importância da valorização, do acolhimento e do respeito às diferenças.
(EF07CI06) Discutir e avaliar mudanças econômicas, culturais e sociais, tanto na vida cotidiana quanto no mundo do trabalho, decorrentes do desenvolvimento de novos materiais e tecnologias (como automação e informatização).
(EF09CI08) Associar os gametas à transmissão das características hereditárias, estabelecendo relações entre ancestrais e descendentes.
(EF09CI09) Discutir as ideias de Mendel sobre hereditariedade (fatores hereditários, segregação, gametas, fecundação), considerando-as para resolver problemas envolvendo a transmissão de características hereditárias em diferentes organismos.
(EF09CI10) Comparar as ideias evolucionistas de Lamarck e Darwin apresentadas em textos científicos e históricos, identificando semelhanças e diferenças entre essas ideias e sua importância para explicar a diversidade biológica.
(EF09CI11) Discutir a evolução e a diversidade das espécies com base na atuação da seleção natural sobre as variantes de uma mesma espécie, resultantes de processo reprodutivo.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/SEB, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf>. Acesso em: abril de 2021.
CARUTA, Karoline. Darwinismo, raça e gênero. Projetos modernizadores da nação em conferências e cursos públicos. (Rio de Janeiro; 1870-1889). Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2016.
POLIAKOV, Léon. O mito ariano. São Paulo, SP: Perspectiva/Edusp, 1974.