09/05/2022 - Arte
Lápis cor da pele! Pele de quem?
Olá professor, olá professora!
– Professora: Vamos desenhar e pintar nossa família!
– Joãozinho: Prof, me alcança o lápis cor da pele?
– Professora: Pele de quem?
Durante muitos anos foi “normal” ouvir e dizer esse termo: LÁPIS COR DA PELE. Mas você já parou pra pensar “PELE DE QUEM?”
Há quem diga que isso é exagero, será?
O ambiente escolar tem sido lugar de perpetuação de práticas racistas em que alunos e alunas ainda vivenciam uma carência muito grande de identidade.
Desde a mais tenra idade, elas já apresentam uma imagem distorcida de si, é o que aponta estudo do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES).
A pesquisa selecionou uma sala de escola pública, onde a maioria dos alunos era negra e pediu para eles se autorretratarem. O lápis salmão, intitulado como “lápis cor de pele”, foi o mais usado na hora de colorir a cor da pele, usado inclusive entre as crianças negras.
Os pesquisadores explicam que os alunos encontraram dificuldades de se desenhar e principalmente de se colorir. Consciente ou inconscientemente, a utilização do ‘lápis cor de pele’ se apresentou como uma solução, ainda que a atividade fosse para se retratarem como são. Muitos estudantes acharam feio colorir com lápis marrom e quando não se utilizava o lápis cor de pele, preferia outra cor como o rosa.
Ainda que não seja intencional, tais concepções indicam a naturalização de conceitos racistas ao evidenciar um padrão e uma tentativa de se adequar a esse padrão.
“Mas eu não gosto [de pintar meu autorretrato]. Nenhum desenho que faço gosto de pintar a pele, nunca sei que cor pinto. Se uso a cor de pele fica muito claro, se uso esse (mostrou um lápis marrom) fica muito feio, então prefiro não pintar”, afirmou uma das alunas negras que participaram do estudo.
A naturalização do ‘lápis cor da pele’ é um exemplo de microagressão racial que as crianças negras sofrem desde que pisam no ambiente escolar. A dificuldade de manifestar a própria identidade e considerar “feio” a cor que mais se aproxima da sua própria cor de pele é a evidência mais concreta do racismo estrutural em sua formação inicial.
“A escola não é um campo neutro, pelo contrário nela se reproduzem e se intensificam conflitos sociais, por isso é inaceitável que professores se posicionem de forma neutra no cotidiano escolar, é necessário que haja intervenção em práticas que tentam hegemonizar o alunado”, afirmou o estudo.
Microagressão racial tem efeitos devastadores
Derald Wing Sue, professor da Universidade Columbia que estuda a psicologia do racismo e do antirracismo, resumiu as microagressões raciais como “os insultos, as indignidades e as mensagens humilhantes passadas às pessoas não brancas” por indivíduos que não têm consciência da natureza ofensiva de suas palavras ou ações.
A principal característica da microagressão, que não deixa de ser uma atitude racista, é permanência cotidiana e insistente em toda a rotina da vítima, a despeito da intencionalidade de quem comete o ato. Desde o ‘lápis cor da pele’, até a falta de atenção do docente, a presunção de incapacidade e/ou dificuldade, a discriminação dos colegas, a questão do cabelo, o brincar sozinho e até a falta de compreensão da brutal desigualdade social que acompanha a questão racial.
O Centro de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard compilou estudos documentando como a vivência cotidiana do racismo estrutural impacta “o aprendizado, o comportamento, a saúde física e mental” infantil. E elencou quatro pontos: Corpo em estado de alerta constante; Mais chance de doenças crônicas ao longo da vida; Disparidades na saúde e na educação; Cuidadores mais fragilizados e ‘racismo indireto’
No Brasil, essa realidade também pode ser medida pelo medo da evasão escolar. Análise feita pelo Plano CDE revelou que famílias de alunos negros têm 63% mais risco de ter medo da evasão escolar de seus filhos do que pais de estudantes brancos. Isso acontece porque além das dificuldades oriundas das crises econômicas e sanitária, há o cenário de um ambiente hostil para estudantes negros e negras.
Em maio do ano passado, o medo da desistência de alunos negros nas suas famílias era de 35%. O número subiu para 43% no final de setembro. Entre os pais de estudantes brancos, não chegou a 40%. Quando o recorte também inclui a condição social, o cenário fica ainda pior: entre os alunos negros de famílias com renda de até dois salários mínimos, o medo de desistência chegou a 50%.
“A escola é um ambiente em que as crianças socializam e estabelecem relações com os demais, sendo importante para a construção da identidade de cada uma delas […] Logo elas devem ter um suporte também da escola, pois podem se tratar das primeiras vivências com as práticas racistas das crianças”, concluiu o estudo do IFES.
E como usar Arte para falar sobre isso?
Hoje vamos indicar duas artistas!
A primeira é a ANGÉLICA DASS
Humanæ é um trabalho fotográfico em andamento da artista Angélica Dass, uma reflexão invulgarmente direta sobre a cor da pele, tentando documentar as verdadeiras cores da humanidade em vez das etiquetas falsas “branco”, “vermelho”, “preto” e “amarelo” associadas à raça. É um projeto em constante evolução buscando demonstrar que o que define o ser humano é sua inescapável singularidade e, portanto, sua diversidade. O fundo de cada retrato é matizado com um tom de cor idêntico a uma amostra de 11 x 11 pixels tirada do nariz do sujeito e emparelhada com a palete industrial Pantone®, o que, em sua neutralidade, põe em questão as contradições e estereótipos relacionados com a questão racial. Mais do que apenas rostos e cores no projeto há quase 4.000 voluntários, com retratos feitos em 20 países diferentes e 36 cidades diferentes ao redor do mundo, graças ao apoio de instituições culturais, sujeitos políticos, organizações governamentais e organizações não governamentais. O diálogo direto e pessoal com o público e a absoluta espontaneidade da participação são valores fundamentais do projeto e o conotam com uma forte veia de ativismo. O projeto não seleciona participantes e não há data definida para a sua conclusão. Desde alguém incluído na lista da Forbes, até refugiados que cruzaram o Mar Mediterrâneo de barco, ou estudantes tanto na Suíça como nas favelas do Rio de Janeiro. Na sede da UNESCO, ou em um abrigo. Todos os tipos de crenças, identidades de gênero ou deficiências físicas, um recém-nascido ou doente terminal, todos juntos constroem a Humanae. Todos nós, sem rótulos.

A segunda é a artista ADRIANA VAREJÃO
Ela faz a série “a voz do polvo” onde aborda os diferentes tipos de pele a partir de um estudo junto a uma antropóloga com base nos dados do IBGE. Para saber mais sobre isso, você pode ler a entrevista de Adriana por meio do link: https://artebrasileiros.com.br/arte/povo-de-cores-infinitas/
E para terminar, trago mais duas referências de vídeos.
Curta metragem lápis cor da pele: https://www.youtube.com/watch?v=-VGpB_8b77U
Vídeo lápis cor da pele: https://youtube.com/shorts/UXt4hYSJWxQ?feature=share
IMPORTANTE SABER!
Hoje em dia, há disponível no mercado, diversas marcas de caixas de lápis de cores e de giz de cera com diferentes tons de pele, peça para a equipe gestora da escola adquirir!
Gostou? Ficou com dúvidas ou tem sugestões?
Deixe aqui nos comentários!!!
ATÉ A PRÓXIMA, TCHAU! =)
Rafael Pawlina
Assessor de Arte
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