Dialoga, Brasil! – Treze de maio e Ensino Religioso
Palavras-chave:
Capoeira, abolição, resistência.
Segmento/ano:
Ensino fundamental
Olá Professores!
Em um post do blog de História falamos sobre a “ineficiência” da lei Áurea e do treze de maio como data comemorativa. Além disso, apresentamos algumas formas de luta e resistência que realmente foram efetivas no pré e no pós abolição da escravatura no Brasil. Para ler ele clique AQUI.
Hoje vamos falar da capoeira como uma dessas formas efetivas de luta e que tem um profundo vínculo com a religião. A capoeira se apresentou no contexto de abolição como uma das formas de resistência dos grupos negros que mais “ameaçavam a ordem pública” e causavam medo nas instituições do período. Não à toa foi proibida pelo código penal do Brasil de 1890:
Além do receio das instituições por conta da habilidade de luta corporal que a capoeira desenvolvia nos negros (nesse contexto já libertos), também havia uma uma forte presença da intolerância religiosa no processo de criminalização da prática. As rodas de capoeira, desde de sua origem, possuem um caráter religioso muito forte.
Entre os elementos que conectam a capoeira as religiões afro-brasileiras é possível destacar a composição hierárquica dos capoeiristas, que remete a lógica de respeito ao mais velho e aprendizagem por meio de seus ensinamentos. Também é comum observar nas rodas, no início do jogo, os capoeiras pedirem a bênção ao pé do berimbau. Essa prática é típica nos ilês de candomblé, em que a bateria de instrumentos (chamadas e engoma) é saudada no início dos ritos, pois é parte essencial da prática religiosa: a música.
Uma das maiores ligações está justamente na música e na musicalidade. Desde a disposição dos instrumentos, a ordem das cantigas entoadas na roda, a lembrança dos personagens míticos da capoeira e os louvados nas cantigas sendo os mais velhos: tudo demonstra um grande laço com o candomblé. Vale destacar que hoje existem inúmeras capoeiras, como a regional, que assumem um caráter mais contemporâneo. Contudo, tais elementos citados acima ainda se veem presente na maioria dos segmentos e em especial nas mais tradicionais, como a capoeira Angola.
Nas rodas de jogo é possível observar que movimentos base da capoeira, como a ginga e as negaças são muito semelhantes as danças feitas para o orixá Exu. Ele é conhecido pelo paradigma de ser e não ser ao mesmo tempo, muito representado pela encruzilhada (que inclusive é o nome de um movimento na capoeira). Outra presença religiosa na roda é a ideia de tempo sagrado e não o tempo cronológico, em que os jogadores precisam estar em transe, conectados com a música, para sentir e fazer um bom jogo.
Todos esses elementos, e ainda outros não citados dão a capoeira uma construção que não se restringe a luta, mais perpassa o jogo, a dança, a Arte e as religiões africanas. Essa união complexa e o tom religioso que a estética da capoeira assume são os grandes motivadores para que atos de proibição presente no código de 1890, e ainda antes desse ano, existissem: ela representa realmente uma contraversão aos valores da época e coloca em praça pública as práticas culturais africanas como processos de resistência.
Luta, jogo, arte, música, religião… como trazer essa prática para a sala de aula? Fique ligado no nosso próximo post!
Amplie seu conhecimento sobre a capoeira assistindo o vídeo da Mestra Janja indicado abaixo:
A mestra de capoeira janja fala da posição da capoeira no mundo contemporâneo como elemento de cura frente a diáspora e a violência aplicada aos povos africanos. O canal do youtube Instituto Nzinga de Capoeira Angola produz ricos materiais de registro da prática da capoeira angola.
Habilidades mobilizadas (BNCC):
(EF35EF13) Experimentar, fruir e recriar diferentes lutas presentes no contexto comunitário e regional e lutas de matriz indígena e africana.
(EF67EF14) Experimentar, fruir e recriar diferentes lutas do Brasil, valorizando a própria segurança e integridade física, bem como as dos demais.
(EF09HI03) Identificar os mecanismos de inserção dos negros na sociedade brasileira pós-abolição e avaliar os seus resultados.
*Texto escrito em parceria entre: Equipe Assessoria de História e Ensino Religioso e a Professora Daniela Pereira da Silva
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Referências:
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/SEB, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf>. Acesso em: maio, 2021.
COLUMÁ, Jorge Felipe; CHAVES, Simone Freitas. O sagrado no jogo de capoeira. Textos Escolhidos de Cultura e Arte Populares, v. 10, n. 1, 2013.
ALVAREZ, Laura. Cantigas e comunicação na roda de capoeira. 1997.
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