Dialoga, Brasil! – Cocar de E.V.A e pintura de guache?
Palavras-chave:
Grafismo, etnoarte, indígena.
Segmento/ano:
Ensino Fundamental.
“A arte indígena é um sofisticado meio de comunicação estética, que informa aos demais sobre a diferença da qual emana força, autenticidade e valores das nações indígenas. Exibir as marcas tribais é indicar a resistência ao colonialismo, ao eurocentrismo e ao androcentrismo”. Eliene Putira, 2019
Olá, professores!
Estamos finalizando o abril indígena e esperamos que com ele tenham surgido inquietações que possamos levar para o ano todo na nossa prática educativa. Aqui no blog, há um post de Ensino Religioso apresentando possibilidades para trabalhar temáticas indígenas ao longo do ano e não reduzir apenas ao mês de abril (você pode acessar ele clicando AQUI). No blog Língua Inglesa há uma postagem sobre apropriação cultural que também indicamos, pois nos coloca em alerta frente ao esvaziamento que as culturas indígenas sofrem (você pode acessar ele clicando AQUI).
Esses debates nos levam a compreender o quão problemático é, no dia 19 de abril, colocar cocares de E.V.A e realizar pinturas corporais com tinta guache nos nossos estudantes, como uma forma de trabalhar a questão indígena. Além de se apropriar de elementos culturais dos povos originários, isso esvazia o significado que, originalmente, possui caráter identitário para as etnias.
A etnoarte se refere a um saber cultural ancestral que só possui significado junto da sua cultura, pois é uma das formas de expressão identitária étnica. Também chamado de grafismo, é uma prática presente nas 200 etnias indígenas do Brasil, com inúmeras diferenças entre elas. Um dos motivos dessa diversidade se dá pelo uso de produtos naturais na produção das tintas usadas nos grafismos. Como jenipapo e urucum usado pelos os Krenak do rio Doce.
Os grafismos não são formas de expressão fixos nessas culturas. Por outro lado, também não são criados livremente, pois surgem de uma balança entre a memória tradicional e a poética contemporânea na busca por sinais que gerem identificação na comunidade atual. Ou seja, falamos de uma prática cultural viva.
No que se refere aos cocares, o tamanho, as cores, o pássaro de origem pena usada e o formato que o cocar assume na cabeça possuem significado. Assim como os grafismos, seu simbolismo não pode ser retirado do contexto cultural que faz parte. Para a etnia Fulni-ô (Águas Belas, Pernambuco) o cocar representa a conexão com os espíritos sagrados e é usado somente durante rituais como o Ouricuri (momento de deslocamento da aldeia para renovação espiritual e identitária, dura em torno de três meses).
Depois dessa breve explicação, pode-se ter uma ideia que a guache e o E.V.A não traduzem a complexidade e a diversidade cultural que os grafismos das artes plumárias representam.
No próximo post vamos sugerir uma prática educativa que trabalhe com os povos originários e não represente uma forma de apropriação cultural. Fique ligado!
Habilidades mobilizadas (BNCC):
- EF03GE02 Identificar, em seus lugares de vivência, marcas de contribuição cultural e econômica de grupos de diferentes origens.
- EF69AR34 Analisar e valorizar o patrimônio cultural, material e imaterial, de culturas diversas, em especial a brasileira, incluindo suas matrizes indígenas, africanas e europeias, de diferentes épocas, e favorecendo a construção de vocabulário e repertório relativos às diferentes linguagens artísticas
- EF05ER05 Identificar elementos da tradição oral nas culturas e religiosidades indígenas, afro-brasileiras, ciganas, entre outras.
*Texto escrito em parceria entre: Equipe Assessoria de História e Ensino Religioso e a Professora Daniela Pereira da Silva
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Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/SEB, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf>. Acesso em: abril de 2021.
Portal UFPA. Página Inicial. Disponível em: <https://www.portal.ufpa.br/index.php/ultimas-noticias2/9573-pinturas-corporais-indigenas-sao-marcas-de-identidade-cultural>. Acesso em: 20 de abril de 2021.
RIBEIRO, Maristela Maria. Grafismo indígena. 2012.
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