Mão na massa, Brasil! – Espiritualidade e folclore
Palavras-chave:
Folclore, espiritualidade, indígena
Segmento/ano:
Ensino fundamental
Olá!
Na última postagem falamos sobre o abril indígena e sobre a importância de estender os debates deste mês para o ano todo. Para ler, clique AQUI.
Hoje vamos propor uma prática que trabalhe com espiritualidade indígena de maneira respeitosa. Citamos no post anterior que é comum, apesar de errado, reduzir essa espiritualidade a uma visão folclórica. Isso se apresenta de forma desrespeitosa com as populações indígenas pois reduz a complexidade de suas práticas e crenças religiosas.
Ao tratar a espiritualidade indígena como uma lenda, centramos as narrativas no passado, pois elas são vistas como histórias que já aconteceram algum dia, longe do tempo presente. Diferente da espiritualidade indígena, que compreende que as divindades não só criam o mundo, como também o transformam constantemente. Ou seja, é uma vivência que engloba o tempo presente.
Além disso, a percepção de lenda engloba a ideia de algo que não é real. Comumente ouvimos as pessoas à nossa volta se referindo a algo que é falso/mentiroso como uma lenda. Aplicar esse caráter para a religiosidade de diversas etnias é desrespeitoso e carrega uma carga de violência simbólica.
Pense conosco: no Brasil o cristianismo é a religião hegemônica, chegar para um cristão e dizer que toda a sua religiosidade é uma lenda soa um tanto quanto ofensivo. Então por que fazemos isso com os povos originários do nosso país?
Reduzir a complexidade da religiosidade indígena, geralmente está atrelado ao fato dela não possuir um dogma, pelo contrário, pois ela se baseia no movimento da natureza e tem na palavra sua maior âncora, o que chamamos de tradição oral. A relação com o sagrado tem a natureza como local de expressão religiosa. Dessa forma, não possui uma construção específica, como as igrejas. Isso não a torna uma forma de expressão religiosa menos sólida que outras que possuem dogma, cultura escrita e espaços específicos de culto.
Uma das consequências da folclorização das religiosidades indígenas é a construção de uma imagem romantizada do que os povos originários chamam de encantados, dos seres da floresta. Esses são vistos como divindades protetoras. Quando falo de Curupira, por exemplo, é bem provável que a imagem que vem a sua cabeça seja semelhante a essa:
Contudo, o que o folclore chama de Curupira, para o povo Tukano é o Boraro. Esses seres são antropomórficos e se perderam na origem do mundo. Apesar de não serem humanos possuem uma vida social como eles. Quando os humanos invadem seu espaço, os Boraro se manifestam em sinal de revolta, o que gera uma natureza mais feroz. Sua aparência pode ser algo semelhante a imagem abaixo:
A partir desses dois exemplos já podemos perceber algumas diferenças entre espiritualidade e folclore. Caso você professor queira aprofundar seus estudos sobre os encantados, sugerimos a seguinte obra:
O convite é para que realizemos esse debate com nossos educandos. Depois, para exercer o olhar atento sobre as diferenças da imagem romantizada para a original dos encantados, sugerimos o jogo das diferenças:
Você pode adaptar essa atividade usando outros seres como a Pokwara, a Mãe d’água, Jaci Jaterê ou o Boiaçu (no folclore respectivamente a Pisadeira, Iara, Saci Pererê e cobra grande da Amazônia). Um olhar para a alteridade possibilita identificar transformações que ocorrem no processo de folclorização dos encantados indígenas. Aliado ao debate sobre as problemáticas desse processo, passamos a construir um espaço mais respeitoso perante a espiritualidade indígena!
Habilidades mobilizadas (BNCC):
EF03GE02 Identificar, em seus lugares de vivência, marcas de contribuição cultural e econômica de grupos de diferentes origens.
EF05HI07 Identificar os processos de produção, hierarquização e difusão dos marcos de memória e discutir a presença e/ou a ausência de diferentes grupos que compõem a sociedade na nomeação desses marcos de memória.
EF07HI03 Identificar aspectos e processos específicos das sociedades africanas e americanas antes da chegada dos europeus, com destaque para as formas de organização social e o desenvolvimento de saberes e técnicas.
EF09HI08 Identificar as transformações ocorridas no debate sobre as questões da diversidade no Brasil durante o século XX e compreender o significado das mudanças de abordagem em relação ao tema.
Compartilhe conosco como é a sua prática diante destas temáticas. E, fique de olho, nos próximos posts vamos apresentar diversas sugestões de práticas interdisciplinares sobre o assunto.
* Texto escrito em parceria entre: Equipe Assessoria de História e Ensino Religioso e a Professora Daniela Pereira da Silva
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Referências:
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC/SEB, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/wp-content/uploads/2018/02/bncc-20dez-site.pdf>. Acesso em: abril de 2021.
YAMÃ, Yaguarê. Contos da floresta. Editora Peirópolis LTDA, 2016.
DE OLIVEIRA, David Mesquiati. Ensino religioso escolar e religiosidades indígenas. UNITAS-Revista Eletrônica de Teologia e Ciências das Religiões, v. 2, p. 126-139, 2015.
SCUSSEL, Marcos André. O ser e o fazer no ensino religioso. Revista Lusófona de Ciência das Religiões, n. 12, 2007.
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