12/07/2019 - Língua Portuguesa
Que tal utilizar Charges para trabalhar com a intertextualidade nas aulas de Português?
Olá, professores! Tudo bem com vocês?
A BNCC sinaliza que, para o trabalho com os textos, é necessário propor objetivos de aprendizagem que concorrem para a capacidade dos estudantes de relacionarem textos, percebendo os efeitos de sentidos decorrentes da intertextualidade temática, encontrada entre textos que partilham os mesmos temas ou utilizam os mesmos conceitos, e da polifonia resultante da inserção – explícita ou não – de diferentes vozes nos textos.
Mas como podemos desenvolver isso com nossos alunos? Neste Post vamos propor uma atividade, adaptada do Livro de Receitas do Professor de Português – atividades para a sala de aula, de Carla Viana Coscarelli, para trabalhar com essa temática tão presente nas mais variadas linguagens.
Assim, para realizar esse trabalho, você pode aproveitar também para analisar com os alunos como os fatores extralinguísticos e a linguagem não verbal influenciam na recepção desse gênero textual. Esses textos podem ser ótimos estímulos para desenvolver habilidades de leitura, como a produção de inferências, a consideração da situação de comunicação, a percepção da ironia e a dedução dos prováveis objetivos do autor”. Além disso, o trabalho com a charge pode ser um excelente recurso para abordar um trabalho com a intertextualidade temática.
Inicie o trabalho a partir de uma conversa com seus alunos sobre charges, mostre algumas para eles, discuta o que representam o propósito delas. Entretanto, não mostre muitos detalhes sobre esse gênero, já que isso será tarefa dos alunos.
Feito isso, dê a eles a seguinte instrução:
Vocês procurarão charges com a mesma temática, na internet, e selecionarão duas que vocês entenderam e duas que não conseguiram compreender e que também abordem a mesma temática. Descubram por que isso acontece, ou seja, por que vocês entendem algumas charges e outras não.
Os grupos devem apresentar as charges para os colegas, bem como explicar as que compreenderam e as que não compreenderam. A turma deverá levantar suas conclusões a respeito do conhecimento necessário para a compreensão de charges e os fatores que podem levar à não compreensão deles. Esse trabalho pode resultar em um conjunto de “dicas para quem quer entender uma charge”; ou em pequenos textos explicativos escritos para acompanhar as charges encontradas pelos alunos.
Os trabalhos dos alunos devem sempre ser socializados, seja em forma de mural, de exposição, de livrinho ou web page. As charges mais engraçadas podem ser expostas na sala, nos corredores da escola ou outras formas que o professor criar. Isso é muito bom para a autoestima dos alunos, já que verão seus trabalhos valorizados em um espaço público e apreciado por outros leitores que não apenas o professor.
Objetivos do trabalho:
Esta atividade proporciona a capacidade de analisar como os fatores extralinguísticos – contexto/conhecimentos prévios – influenciam na construção e interpretação de um texto.
Para ser compreendida, uma charge depende de vários fatores, como os conhecimentos prévios do receptor para a interpretação da mensagem (englobando aí o fator contexto). Charges são textos que fazem alusão a algum acontecimento do momento (político, econômico, social etc.) e para que atinjam o seu objetivo de provocar o humor, as charges dependem de que o leitor tenha conhecimento do contexto que envolve a cena retratada. Se o leitor desconhece qual é o acontecimento em questão, a charge muito provavelmente não fará sentido algum. Também é importante ressaltar os aspectos não verbais: as charges têm como característica principal serem desenhos, caricaturas dos acontecimentos (ou pessoas) em questão. São a união de desenhos e textos verbais, às vezes, até mesmo somente desenho (sem o texto verbal). Sendo assim, oferecem ao professor uma ótima oportunidade para explorar a linguagem não verbal. Além disso, é uma ótima oportunidade para se trabalhar com a intertextualidade temática, já que hoje o fenômeno da intertextualidade é considerado um recurso linguístico de largo emprego nas mais variadas linguagens.
Os alunos devem ser levados a chegar a tais conclusões por reflexões próprias, pela análise das charges que entenderam e das que não entenderam. Trabalhando em grupo, essa análise fica mais fácil, pois aquelas charges que um aluno não entendeu, o outro poderá entender (e compartilhar a compreensão da charge). Assim, fica mais fácil compreender que é necessário o conhecimento prévio da situação retratada para que a charge possa ser entendida.
Os alunos devem ser incentivados a explorar os aspectos não verbais do texto, como traços caricaturais e outros elementos presentes, a fim de ver como tais elementos têm muito o que dizer, bem como a comparar as charges com intuito de abordar a intertextualidade temática.
Nesse trabalho, o professor pode discutir com os alunos as principais características das charges, os principais chargistas do Brasil e os principais alvos das charges. Ao trabalhar com esses textos, consideramos que o professor não pode perder a oportunidade de estimular discussões sobre linguagens não verbais, ideologia, formas de poder, liberdade de expressão, entre ou outros, como a intertextualidade temática encontrada nas charges, pois esse gênero textual é um material riquíssimo para fomentar e subsidiar essas discussões.
Adaptado de uma atividade proposta no livro: COSCARELLI, Carla Viana. Livro de Receitas do Professor de Português – Atividades para a sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.